Cultura
Grupos da cultura popular de Lençóis têm na Festa o seu momento de maior expressão
Grupos da cultura popular de Lençóis
O colorido, a alegria e animação dos eventos tradicionais da Festa de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos – Padroeiro dos Garimpeiros de Lençóis são garantidos pela presença das manifestações da cultura popular.
O projeto Festa de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos – Padroeiro dos Garimpeiros de Lençóis, executado pela Sociedade União dos Mineiros tem um dos seus principais objetivos o apoio material aos grupos culturais locais. O Plano de Trabalho do projeto (link) prevê uma série de atividades voltadas para o fortalecimento da Marujada Barcas em Rios de Lençóis, Terno de Reis do Zabumba, Reisado da Viola, Baianas, Associação de Capoeira Corda Bamba e coral Sal da Terra e Luz do Mundo.
Baianas de Lençóis: uma tradição de alegria e fé
A tradição da lavagem da Igreja de Senhor dos Passos – o seu interior, o adro e as escadarias começou há muito tempo e sempre foi uma tarefa das mulheres, muitas vezes em pagamento de promessas. Atualmente, a lavagem somente é feita no adro e nas escadarias mas continua sendo realizada por mulheres de grande devoção a Senhor dos Passos. A caracterização do grupo com traje típico de ´baianas´ começou em 1977 por iniciativa do professor Raimundo Dourado na gestão do então prefeito Paulo da Silveira.
Naquele ano, a Comissão Organizadora da Festa achou por bem valorizar o trabalho e a devoção das mulheres que se dedicavam à lavagem da igreja caracterizando-as como ´baianas´ tais como as Baianas da Lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador. A inovação contou com o grande entusiasmo de Fernandinho de Tonha (já falecido) que foi convidado para coordenar o grupo. Com seu traje de pai de santo, puxava a coreografia seguida pelas baianas Vane Lima, Emília Jaca, Santinha Canela, Neuza, Meru, Isabel de Dionísio, Ananísia, Morena de Couro, Pedrina, Ninha e muitas outras que seguiam pelas ruas acompanhadas dos músicos da Lyra, encantando o público.
“A Phylarmônica Lyra Popular de Lençóis apresentou-se com os músicos Dadim, João Padeiro, Eônio, Nim, Arnaldo, Kim, Luiz Alves, Bio Cachimbão, Dedé, Vadim Atecá, Valentim, Antônio (Doca), Antônio Martins, Alberto e outros mais”, recordou o professor Raimundo Dourado. Segundo ele, a lavagem da Igreja foi realizada como forma de “agradecer, homenagear, animar e renovar o espírito festivo da população que via no seu Santo Protetor a sua fé fortalecida”.
A partir daquele ano, o Grupo de Baianas de Lençóis passou a fazer a abertura da programação cultural da Festa de Senhor dos Passos com alfazema, flores e muita animação em torno do ato de fé e devoção da lavagem da Igreja de Senhor dos Passos. Inicialmente ficou sob os cuidados da então primeira dama, dona Dote da Silveira e, atualmente, está sob a coordenação da Sociedade União dos Mineiros (SUM) e patrocínio do Presidente de Honra da Festa – a Prefeitura, que fornece todos os materiais necessários para a apresentação do grupo. A SUM organiza o cortejo, que sai da sua sede acompanhado da Lyra pelas ruas da cidade até a Igreja, e, de lá, depois da lavagem, passa pelas barracas da festa profana e retorna para a SUM para a confraternização final.
O figurino típico das Baianas de Lençóis é composto pela roupa de renda branca com blusa e saia franzida, jarros de cerâmica com flores, torso na cabeça, colares coloridos, sandálias tipo havaianas, baldes, vassouras e bastante água de cheiro (alfazema). “Tudo isso para valorizar a devoção dessas mulheres de fé que tanto abrilhantam a Festa de Nosso Senhor dos Passos – Padroeiro dos Garimpeiros de Lençóis”, afirma a coordenadora do grupo e associada da SUM, Doralice Araújo Magalhães.
A baiana Vane Lima, 83 anos, é a mais velha baiana de Lençóis e também a que está há mais tempo no grupo. Ela estava entre as primeiras mulheres que se apresentaram como baianas na lavagem das escadarias da igreja. A sua devoção começou quando jovem e foi, segundo ela, motivada pela interseção de Senhor dos Passos pela vida do seu pai quando ele sofreu um acidente no garimpo. Ela se emociona muito ao falar da sua devoção, do quanto é grata a Senhor dos Passos e da alegria em participar da lavagem, especialmente com a presença da Lyra tocando para elas. “Esse ano estava muito diferente (por causa da pandemia), mas quando a Lyra encostou, o pau quebrou (risos), foi a alegria que chegou. Nos pegou de surpresa”, disse ela, lembrando a lavagem de 2021 que foi feita de forma simbólica somente envolvendo as baianas mais antigas da devoção e com a participação de alguns músicos da filarmônica.